Revista Época e a redefinição dos conceitos de cultura popular

Só a capa e o subtítulo que ela traz já parecem absurdos, mas ainda assim vale o esforço de tentarmos entender o que a “conceituada” Revista Época pretende com essa capa e consequentemente com essa matéria.

É bem verdade que o sucesso de Michel Teló alcançou níveis inimagináveis para qualquer cantor de sertanejo (sertanojo?) universitário. 

O hit “Ai Se Eu Te Pego” já ganhou versões em inglês, polonês e provavelmente em qualquer outro idioma também. E acreditem vocês ou não, mas isso é um problema.

E tendo esse problema em mente e a capa da revista em questão como base da discussão, há de se fazer uma pergunta fundamental: É possível afirmar que se trata de uma bobagem sem precedentes dizer que Michel Teló traduz os valores da cultura popular com uma música onde a letra – de qualidade duvidosa – se repete ao longo de seus três ou quatro minutos? Talvez sim. Talvez não.

Apesar de ter muita coisa ruim por aí, a cultura brasileira é sim bastante rica e variada. Sejamos justos e aceitemos o fato de que a cultura brasileira não se resume apenas à mulher pelada e carnaval ou futebol e façamos um esforço para lembrar de exemplos de coisas realmente de valor dentro da nossa cultura. Sem sombra de dúvida, passaríamos horas nesse exercício.

Mas se a questão for tomada por um outro ponto de vista, talvez se possa afirmar que a Revista Época não poderia estar mais certa. Parece absurdo? Possivelmente. Mas pode se tratar de uma verdade bastante inconveniente e difícil de se aceitar. Por quê? Simples. Mesmo que não tenha sido a intenção do jornalista,  talvez ele esteja expondo que a cultura brasileira anda tão deteriorada e sem valor que qualquer coisa de gosto duvidoso faz sucesso. E mais do que isso. Não é de hoje.

Quer melhores exemplos do que os hits que o Latino tem conseguido emplacar nos últimos anos? Ou a Dança do Creu? Melhor ainda, que tal um pouco de Rebolation? Falar do Restart, do Luan Santana ou do Gusttavo Lima seria bater em bêbado.

Mas antes de finalizar, é importante que façamos outros questionamentos: A real cultura brasileira agoniza ao ver alguém que a resuma a tão pouco? A um cara numa balada com uma cantada barata? Ou então a proliferação de gente babaca chegou a um nível tão grande que a real cultura brasileira se resumiu a pó e encontra-se largada num canto? Será que os valores da cultura brasileira estão mesmo traduzidos no hit de Michel Teló? 

Se sim, só há uma palavra que possa resumir tudo isso: Trágico.